terça-feira, 26 de janeiro de 1988

Luz apagada

Quebrar vidraças, sair voando, gritar e ouvir eco no étero. As correntes fortemente atadas aos pés e mãos não deixam.

Antes, ao menos, existiam sonhos, esperanças, força e razão do duro e anônimo "enfrentar o dia seguinte". Antes, ao menos, escrevia como forma de animar o interior. Antes, havia algum prazer em levantar, abrir a porta e sair. Caminhar, às vezes em círculos, mesmo que fosse para esperar o tempo ocioso passar. Caminhar foi a proposta pare este oitenta e oito, tão enrolado quanto seu modo de representar. Mas está difícil.

Está escuro neste cômodo e eu tenho medo. Um interruptor, por favor! Preciso achar um na parede. Tomara que exista parede.

quinta-feira, 14 de janeiro de 1988

Estagnação

Andar é preciso, tenho consciência disso. Mais que andar, correr, voar, quebrar barreiras...

Fechar os olhos ou só olhar lá na frente, naquele ponto onde deve, a qualquer momento, surgir um foco de luz.

Seis anos se passaram desde que, com alegria incontida, juntei-me à querida família pondo fim à agonia de somente vê-los aos finais de semana.

Seis anos! O que fiz nestes seis anos para melhorar o padrão? Vejo, depois desse tempo todo que foram seis anos deestagnação em todos os campos: material, intelectual, espiritual.

segunda-feira, 4 de janeiro de 1988

De volta à cidade grande

Insônia, pernilongos. 04:30 da matina, saio correndo com a mala (estará tudo aqui dentro?).
05:45 no Jabaquara. Faço as contas: 06:00 no Paraíso. Três horas antes!

É isso aí. À frente a fábrica da Brahma. Respiro, piso o pé direito no chão e começo a caminhar. Três horas me separam do provável novo emprego.

Paulista, Rebouças (onde tem um banheiro, por favor?). Duas horas de caminhada.

09:00 - pedem-me para retornar à Itaguaçu.
11:00 - Itaguaçu. Aguardando. Entrevista com gerência, ganho mínimo de Cz$20.000/mês.

16:00 - assumindo o posto na Dicka.
Nilma Vieira de Melo (SAO/YYZ/SAO), minha primeira cliente.

sábado, 2 de janeiro de 1988

Pizzaria Firenze, Itanhaém

Na segunda indecisão, decidi: Itanhaém das 19:00 de ontem até 03:00 de hoje, sem parar. Por um lado (pelo principal, atualmente), até que compensou. Foi difícil decidir.
Depois, o caminhar pela dormente Itanhaém às 03:30 para alegrar-me, sonolento, com o ônibus ao raiar do dia (acho que já eram 06:00).

Dormir, dormir! A surdez que se iniciou ontem continua (até quando?). Já não incomoda tanto. Agora, 15:00, lá vou eu (empurrado, diria, mas temos que correr!) de novo. E até amanhã.