domingo, 28 de janeiro de 1996

Cooptação

Roberto olha o pai tratando-o como um estranho a ser eliminado. Mãos fechadas, dentes cerrados, olhar de ódio, nariz empinado. Alceu diz-lhe que isso não impressiona. Decepciona mas não impressiona. É uma pena, mas não tem nada mais a fazer.

- Não precisa aturar-me, olhar-me tampouco conversar. Mas eu ainda vou lhe sustentar.

Alceu tem encontrado nos últimos anos a mesma cena: a esposa Walquíria embriagada, mal vê o marido chegar e já o fustiga com termos impublicáveis. Alceu nada diz, não adiantaria. Sua preocupação agora é com Helena, sua filha mais nova.

Alceu se apercebe que o relacionamento não está apenas abalado temporariamente. Descobre isso ao sair do banheiro e ouvir Walquíria cooptando Roberto com frases entrecortadas por acessos fenomenais de tosse e baforadas de cigarro: "(...) primeira oportunidade caio fora... você podia virar homem pra ajudar a gente sair daqui... ficar com isso aí?"

quinta-feira, 25 de janeiro de 1996

Subempregos

Coisas mudando não só porque o dia avança, o mundo gira e os anos passam. Quase certo que não passem, passamos por eles já que o relógio não passa de uma sucessão de números que, afinal, estão parados. Na verdade os ponteiros somos nós.

Curtas temporadas em empresas (empresas?) capengas. AGD, Skylines, todas quebrando. Se os deuses devem estar loucos no filme, alguém deve estar demente no turismo: gente trabalhando por vale refeição e vale transporte que... são descontados no final do mês! Daí surgem almas iluminadas a dizer que "você não pára em emprego"... oh!, Santa Sabedoria! Revoltante.

Outras coisas a preocupar: começando o ano com 114,5 kg.

Algumas idas ao Parque da Água Branca para caminhadas. É preciso mais que isso pra desalojar essa massa adiposa.

domingo, 1 de janeiro de 1995

... feliz dor de dente

Uma bela dor de dente pra começar o ano.

sábado, 31 de dezembro de 1994

Adeus dor de dente...

Uma bela dor de dente pra terminar o ano.

segunda-feira, 28 de maio de 1990

Retalhos de início de ano

15 de janeiro, início na Panexpress

A briga eterna com a balança:
13MAI: 89,300
20MAI: 84,300
27MAI: 82,200

"Na feira da fantasia a realidade cobra caro" (que coisa estranha...)

terça-feira, 26 de janeiro de 1988

Luz apagada

Quebrar vidraças, sair voando, gritar e ouvir eco no étero. As correntes fortemente atadas aos pés e mãos não deixam.

Antes, ao menos, existiam sonhos, esperanças, força e razão do duro e anônimo "enfrentar o dia seguinte". Antes, ao menos, escrevia como forma de animar o interior. Antes, havia algum prazer em levantar, abrir a porta e sair. Caminhar, às vezes em círculos, mesmo que fosse para esperar o tempo ocioso passar. Caminhar foi a proposta pare este oitenta e oito, tão enrolado quanto seu modo de representar. Mas está difícil.

Está escuro neste cômodo e eu tenho medo. Um interruptor, por favor! Preciso achar um na parede. Tomara que exista parede.

quinta-feira, 14 de janeiro de 1988

Estagnação

Andar é preciso, tenho consciência disso. Mais que andar, correr, voar, quebrar barreiras...

Fechar os olhos ou só olhar lá na frente, naquele ponto onde deve, a qualquer momento, surgir um foco de luz.

Seis anos se passaram desde que, com alegria incontida, juntei-me à querida família pondo fim à agonia de somente vê-los aos finais de semana.

Seis anos! O que fiz nestes seis anos para melhorar o padrão? Vejo, depois desse tempo todo que foram seis anos deestagnação em todos os campos: material, intelectual, espiritual.

segunda-feira, 4 de janeiro de 1988

De volta à cidade grande

Insônia, pernilongos. 04:30 da matina, saio correndo com a mala (estará tudo aqui dentro?).
05:45 no Jabaquara. Faço as contas: 06:00 no Paraíso. Três horas antes!

É isso aí. À frente a fábrica da Brahma. Respiro, piso o pé direito no chão e começo a caminhar. Três horas me separam do provável novo emprego.

Paulista, Rebouças (onde tem um banheiro, por favor?). Duas horas de caminhada.

09:00 - pedem-me para retornar à Itaguaçu.
11:00 - Itaguaçu. Aguardando. Entrevista com gerência, ganho mínimo de Cz$20.000/mês.

16:00 - assumindo o posto na Dicka.
Nilma Vieira de Melo (SAO/YYZ/SAO), minha primeira cliente.

sábado, 2 de janeiro de 1988

Pizzaria Firenze, Itanhaém

Na segunda indecisão, decidi: Itanhaém das 19:00 de ontem até 03:00 de hoje, sem parar. Por um lado (pelo principal, atualmente), até que compensou. Foi difícil decidir.
Depois, o caminhar pela dormente Itanhaém às 03:30 para alegrar-me, sonolento, com o ônibus ao raiar do dia (acho que já eram 06:00).

Dormir, dormir! A surdez que se iniciou ontem continua (até quando?). Já não incomoda tanto. Agora, 15:00, lá vou eu (empurrado, diria, mas temos que correr!) de novo. E até amanhã.